sábado, 27 de fevereiro de 2010

ligações


Lentas horas em rápidos dias. Sonhos dos quais não me lembro... e pensamentos que não tenho, mas sei escondidos em minha cabeça. Horas lentas. Tão lentas que quase posso ouvir o tic tac dentro de mim. A sensação estranha de pensar no dia de ontem como ocorrido há séculos, e no dia que senti o início da diluição do sentimento como sendo parte de outra vida, distante da minha. Talvez pareça distante porque o telefone não tocou em nem um dia, nem no que prometeu que ligaria, e a imagem da voz doce foi se anuviando e deixando espaço para as lembranças tristes e para as boas duvidosas. Mas essa hora lenta vai tornar esse dia rápido, e amanhã é um novo dia, com ele. Sem muitas palavras gastas em resposta ao telefone mudo. Talvez porque já não me importe com dores pequenas.


Cristina Menezes

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

medo


Tantas vezes já quis calar os avisos que minha mente insiste enviar sobre o que sente meu coração, e desta vez não é diferente. Lutando contra uma sensação que nem sei bem de que é, de tanto esforço em não pensá-la. Acho que é medo. Talvez seja. Admitir o medo já é um bom passo. Medo de topar um dia com a ideia de que não ele já não ama e não saber o que fazer disso; ou pior, a ideia que me aterroriza e por isso vivo a evitá-la, descobrir que quem não ama entre nós dois não é ele. É, é medo de mim novamente. Medo que a ideia se concretize em meus pensamentos em algum momento que não sei profetizar, alguns rápidos instantes que podem alterar minha crença em meu mundo e meus planos de futuro... talvez como perceber em beijos pelo corpo um pedido que meu corpo já não deseje atender, ou uma lágrima que de repente esteja cansada de rolar e não queira mais chorar sua ausência presente, ou talvez simplesmente perca a força para dizer palavras contra as dúvidas no seu peito e desista. Talvez fosse melhor pensar, ser uma mulher de decisão. Mas estou tão exausta que prefiro continuar fugindo, fingindo, com medo de pensar e chegar a uma conclusão que me dê medo. Esperarei, deixarei por conta dele e do meu coração, sem interferências, e quando chegar o instante, sentirei na pele o que sinto por dentro.


Cristina Menezes

domingo, 14 de fevereiro de 2010

sonhos


Hoje um sonho me denunciou um medo que eu não queria ver... No sonho, boca qualquer de alguém real, que não a sua, e que só o poderia em sonho, tentava e conseguia encontrar-se à minha. Acordei de olhos fechados e não tive coragem de os abrir por um longo tempo. Como não havia percebido, eu tenho mais medo é de mim... medo de perder o amor nos passos pelo tempo e pelas circunstâncias. Relembrando, não houve importância na outra boca, só a minha me causou estranheza. A frase que ouço na minha mente não é mais "Não destrua o nosso amor", mas sim "Tenha cuidado com o amor que tenho por você", ele é forte, mas minha boca sente falta de beijos longos e lentos, meus ouvidos sentem falta das antigas palavras que você há muito tempo não diz, e meu corpo quer fazer amor em vez de sexo. Você, confuso com o que ficou do que sentia por mim, e eu que via no meu amor o infinito, agora vejo que sou apenas uma muher e que amor carente de afeto adoece. Não deixe meu coração à espera enquanto sonho acordada com você, pois ele chora e sofre e um dia pode fugir em desespero do meu peito e se atirar ao precipício da boca qualquer de alguém real, que não a sua.


Cristina Menezes

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

migalhas


Sinto muito mas não vou medir palavras, não se assuste com as verdades que eu disser. Quem não percebeu a dor do meu silêncio não conhece o coração de uma mulher. Eu não quero mais ser da sua vida nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor. (...) Não foi esse o mundo que voce me prometeu, que mundo tão sem graça, mais confuso do que o meu. Não adianta nem tentar maquiar antigas falhas se todo o amor que voce tem pra me oferecer são migalhas, migalhas...


(adaptado da música Migalhas, cantada por Simone)

Erasmo Carlos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

trabalho manual


Descobri faz algum tempo que as mãos se opõem à cabeça, e quando você movimenta aquelas, esta pode parar. Não sei se é uma grande descoberta, talvez não, mas de qualquer forma gosto quando a cabeça pára o maior tempo possível, caso contrário enche-se de temores, suspeitas, desejos, memórias e todas essas inutilidades que as cabeças guardam para deixar vir à tona quando as mãos estão desocupadas. Ocupo-as então, fazendo coisas que depois disponho pelos cantos.
Há longas tiras de pano colorido ou papel crepom penduradas do teto, pelas portas pendem cortinas, longos fios de contas ou sementes enfiadas em cordões que balançam emitindo sons nas poucas vezes em que abro as janelas para que entre o vento, restos de manequins, braços e pernas e troncos e cabeças que costumo recolher nas latas de lixo quando saio a caminhar, nas horas em que não há mais ninguém nas ruas, e cacos de louça, garrafas cheias de água de muitas cores, pedaços de caixotes que também pinto para que não pareçam demasiado crus, e ainda recortes de figuras ou velhas fotografias que vou colando pelas paredes, montes de palha, fitas, flores secas, sobretudo rosas, sobretudo vermelhas, cujas pétalas depois de mortas ganham uma tonalidade de sangue coagulado. Isso me pacifica.


Caio Fernando Abreu

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

reciclagem


Ainda me causa estranheza o sintoma que venho sentindo já há alguns meses, essa urgência por uma rotina nova, pessoas novas, sentimentos novos e uma nova eu. O tempo torna as coisas tão viciadas a ponto de começarem a me dar sensação de enjôo, literamente... e não sei se isso é errado ou ruim, se só acontece comigo como às vezes parece ser, mas é como é, e é assim. Vem como uma grande urgência em ser estreante, em zerar meu hodômetro, como diria Martha Medeiros. E até que o novo se revele e comece a vingar para dar origem a um novo ciclo, eu prefiro ficar só, em paz com a minha confusão, mesmo convivendo com uma pequena dose de medo... medo de deixar para trás entre os objetos velhos alguma relíquia preciosa que mais tarde não conseguirei resgatar, além de mais um incerto pequeno medo, o de engavetar as memórias.


Cristina Menezes

domingo, 7 de fevereiro de 2010

tempo


Ele disse poucas coisas. Eu disse muitas palavras mais e já não me lembro bem quais usei, só me lembro de tentar encontrá-las e enquadrá-las na melhor resposta desesperada a algumas das poucas que usou: "eu não consigo encaixar você na minha vida". Após as palavras veio a sensação de não saber o que dizer, a tranquilidade e a esperança do que foi dito fazendo efeito, além da sensação do rosto úmido no peito de camiseta molhada. E o silêncio. E mãos que dançavam pelo meu cabelo como num pedido de desculpas, e em seguida, mais palavras, desta vez dele, desta vez num pedido real de perdão. Mas curiosamente, eu sabia que não havia o que perdoar, o que dizer, o que chorar... e fiquei até mesmo feliz. Não sei explicar essa felicidade. Talvez tenha sido a calmaria de uma conversa sincera... o fim da tempestade e o nascimento de uma sensação de que tudo ficaria bem de novo em pouco tempo, mas não era bem como uma esperança, era mais uma certeza, e talvez daí a felicidade. Lembranças de horas mais cedo, pela manhã, me restauravam a paz: dois corpos unidos como a mente não imaginava que outros corpos fossem capazes, suor escorrendo pela pele, rosto colado a rosto, dois sendo um só... e aquelas minhas lágrimas que não suportaram a intensidade do sentimento e da ação. Seria possível que agora restassem apenas dúvidas e problemas e dificuldades e tristezas e medos?! Acho que não. Quando almas se encaixam, corpos se encaixam e corações se encaixam, problemas não podem estilhaçar tudo de forma tão impune. E brotaram outras poucas palavras mais uma vez da boca dele, quebrando novamente o silêncio, desta vez "você é uma pessoa maravilhosa, não queria te fazer sofrer", e lágrimas... dele, pela primeira vez. E veio um abraço, um beijo de despedida na porta de casa, um pedido de tempo e mais um e outro sorrisos tímidos. E mais cedo ou mais tarde, eles viveram felizes para sempre.


Cristina Menezes

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ser leve


Estou aprendendo a ser leve. Ser pesado cansa, é andar em círculos. Estou em silêncio agora, ouvindo meus pensamentos como nunca antes. Aprendendo a libertá-los das amarras da minha alma. Libertá-los do medo de não ser boa o suficiente. Meus pensamentos sou eu. Estou feliz em ser tão somente eu.


Cristina Menezes

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

abraços


Acho que eu desejava um abraço. Não qualquer abraço ou qualquer pessoa, aquela e só aquela e daquele jeito, nem tão forte nem tão apertado, nem tão doce nem tão voraz, no ponto do "te quero", do "te amo" que já não queria ouvir... hoje estava mais para reacordar sensações que os ouvidos já não me garatiam. Mas o abraço não veio, veio só uma conversa amena que eu já não lembrava como começou ou como ultrapassou e tirou da memória tudo que eu ensaiara dizer. O abraço não veio e eu já nem sei mais se já o desejava naquele momento ou se achar que desejei é reflexo do vazio que a conversa amena deixou. O abraço que não existiu reproduziu-se em beijos, carinhos e muitos outros abraços que nunca existiram, além de sonhos não realizados e desejos que calei por medo de admitir que os perderia e sofreria, e sofri.



Cristina Menezes

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

luxúria ♪


Eu quero é derrapar
Nas curvas do seu corpo
Surpreender seus movimentos
Virar o jogo
Eu quero é beber, o que dele
Escorre pela pele
E nunca mais esfriar
Minha febre...

Isabella Taviani

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

palavras de amor

“As mulheres gostam que lhes digam palavras de amor. O ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outro lugar.”

Martha Medeiros