terça-feira, 23 de agosto de 2011

menina


Uma roupa, uma festa, uma bebida, uma dança. Estranho como o densidade dos dias não preenche a falta que a noite deixa após tanta fluidez de vida; como esse tempo, apesar de cheio, passa mais lento e deixa menos marcas... Ressoam em mim as antíteses do tempo. E domada, retribuo com paixão quando a noite me marca, me sente, me fere, me ama. Às vezes, trai. E de um alvorecer para o outro não há hora que preencha ou pensamento que acalente. Passos de volta mais extensos que de ida, lágrimas mais reais que sorrisos. E sabe se lá por que, sentir-me mais confortável, mais autêntica, quando assim o são. E doem as antíses em ser tão humana. A hipocrisia e o egoísmo em me isolar quando a solidão começa a machucar, em me afastar dos sentimentos em direção às ações quando a carência fala mais alto. E perdem-se na decepção já pressagiada as pequenas alegrias em deixar os desejos do corpo responderem pelos desejos do coração - perdem-se na culpa por deixar os instintos calarem os avisos, tão internos. Aí perceber que o passado já se esgotou, mesmo que a lição de como lidar com o que foi/ficou tenha se perdido; que o futuro não se faz por si, nem é fácil ou bom só porque se espera que seja. Perceber que a maturidade dialoga com as incertezas e a estabilidade com os impulsos... e que, por sua vez, toda grande mulher sempre ama a cada amante - ou deixa de fazê-lo - com o vigor da menina: de alma inteira, ainda que esta não se preserve, nem nunca se refaça, intacta como no primeiro amor.

Cristina Menezes