sexta-feira, 30 de março de 2012

vazios


Sinto-me terrivelmente vazio. Há pouco estive chorando, sem saber exatamente por quê. Às vezes odeio esta vida, estas paredes, essas caminhadas de casa para a aula, da aula para casa, esses diálogos vazios, odeio até este diário, que não existiria se eu não me sentisse tão só. O que eu queria mesmo era um ombro amigo onde pudesse encostar a cabeça, uma mão passando na minha testa, uma outra mão perdida dentro da minha. O que eu queria era alguém que me recolhesse como um menino desorientado numa noite de tempestade, me colocasse numa cama quente e fofa, me desse um chá de laranjeira e me contasse uma história. Uma história longa sobre um menino só e triste que achou, uma vez, durante uma noite de tempestade, alguém que cuidasse dele.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 5 de março de 2012

noites


É tarde da noite. O dia de amanhã vai ser daqueles transbordantes de rostos e palavras. E eu aqui, sentada na minha cama, olhando para o quarto ao meu redor, com a sensação de que o apartamento está me engolindo, de que a rua é gigantesca, de que o mundo é gelado lá fora. E penso quase já sem esperanças, naquele sonho que não tive nas noites passadas, nos anos passados... E me pego imaginando onde seria o esconderijo do protagonista de um lugar onde o tempo saiba passar: onde exista uma dose certa entre os dias necessários para a saudade consumir o peito, e para que os minutos não fujam antes da saciedade do beijo. Porque aqui, onde venho morando, o tempo machuca e vezenquando as noites são longas, vezenquando o domingo não passa... E é por isso que desejo tanto encontrá-lo, entende?! Para que deitasse minha cabeça em seu peito largo e fizesse meu sono chegar, e talvez até meu domingo sorrir. Mas não se assuste, pois não sou exigente e não há muito o que trazer... Uma camiseta de algodão branca no corpo, com cheirinho de limpo, e uma barba de alguns dias para roçar minhas bochechas e me lembrar do homem por trás das covinhas, já me fazem satisfeita. E haverá certas tarefas onde um bom fôlego será apreciado. No mais, basta estar aqui, basta dar amor, basta fazer sonhar. Ah, e me diga assim que chegar, se for possível, por onde diabos você andou essas noites todas?!

Cristina Menezes