domingo, 7 de fevereiro de 2010

tempo


Ele disse poucas coisas. Eu disse muitas palavras mais e já não me lembro bem quais usei, só me lembro de tentar encontrá-las e enquadrá-las na melhor resposta desesperada a algumas das poucas que usou: "eu não consigo encaixar você na minha vida". Após as palavras veio a sensação de não saber o que dizer, a tranquilidade e a esperança do que foi dito fazendo efeito, além da sensação do rosto úmido no peito de camiseta molhada. E o silêncio. E mãos que dançavam pelo meu cabelo como num pedido de desculpas, e em seguida, mais palavras, desta vez dele, desta vez num pedido real de perdão. Mas curiosamente, eu sabia que não havia o que perdoar, o que dizer, o que chorar... e fiquei até mesmo feliz. Não sei explicar essa felicidade. Talvez tenha sido a calmaria de uma conversa sincera... o fim da tempestade e o nascimento de uma sensação de que tudo ficaria bem de novo em pouco tempo, mas não era bem como uma esperança, era mais uma certeza, e talvez daí a felicidade. Lembranças de horas mais cedo, pela manhã, me restauravam a paz: dois corpos unidos como a mente não imaginava que outros corpos fossem capazes, suor escorrendo pela pele, rosto colado a rosto, dois sendo um só... e aquelas minhas lágrimas que não suportaram a intensidade do sentimento e da ação. Seria possível que agora restassem apenas dúvidas e problemas e dificuldades e tristezas e medos?! Acho que não. Quando almas se encaixam, corpos se encaixam e corações se encaixam, problemas não podem estilhaçar tudo de forma tão impune. E brotaram outras poucas palavras mais uma vez da boca dele, quebrando novamente o silêncio, desta vez "você é uma pessoa maravilhosa, não queria te fazer sofrer", e lágrimas... dele, pela primeira vez. E veio um abraço, um beijo de despedida na porta de casa, um pedido de tempo e mais um e outro sorrisos tímidos. E mais cedo ou mais tarde, eles viveram felizes para sempre.


Cristina Menezes

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