domingo, 31 de janeiro de 2010

lascividade



Parecia bem, mas não estava. A tempestade de fora fazendo companhia à de dentro. A angústia sem sentido estava agora à flor da pele e os trovões só a forçavam a lutar para sair pelos meus poros. A minha alma lutando em desespero por silêncio, pelo direito a permanecer no nada, no vazio, perdia para a chuva que denunciava a vontade de fugir; os ruídos de fora prendiam e forçavam a pensar, a escrever. Sem autorização as lágrimas brotaram e a mão tremia ao segurar a caneta, todos os medos se jogaram para fora do corpo sem nem se apresentar, tremendo e tremendo e chorando e escrevendo. Será que ela queria falar? Gritar?! Já fez isso sem perceber ou foi impressão? "Não quero que me toquem". Queria um abraço?! Queria sexo. Sentir dentes na pele, gemer. Quer que o corpo transborde e a alma se mude. "Quero um orgasmo de mim". E talvez paz. E sono. E um novo dia. E uma nova versão daquela, de mim... que viva o silêncio e saiba gritar sem ter vergonha de ser ouvida.



Cristina Menezes

toques



O rosto dele próximo do meu. A sua mão toca meu ombro, sobe meu pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se á minha, de leve, de tão leve, que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco com a noite. Ele me abraça. Ele está perto.


Caio Fernando Abreu