quinta-feira, 12 de maio de 2011

noitadas


Dançando madrugada afora, copo sempre à mão, risos livres... quase como se a noite fosse eterna, como se a manhã já não aguardasse. O sentimento de não pensar, tão intenso como se não fosse seu o próprio corpo, sentindo-se expectadora dos próprios impulsos, dos desejos. Às vezes realmente desejaria que fosse real, que fosse sem fim, mas não. Em algum momento o corpo denuncia que existe, que já deu por hoje, que precisa ir embora. E a partir daí a coisa desanda. O vento no rosto, o calor que se apaga, o riso que morre, o silêncio de casa. Por que o silêncio de casa sempre apaga tão rápido os sons da noite? Ainda se ouve um eco fraco, quase como se o vazio de casa tapasse os ouvidos e lhe pusesse mordaça, 'quieta, deixe o ontem adormecer'. E é assim, na inquieta solidão da cama que vai se render ao tempo, fingindo, como se pudesse, que a fantasia de uma pele sobre a qual adormecer é fraca, que a noite foi boa, e que isso basta. Mas já não basta.

Cristina Menezes

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