Sinto-me terrivelmente vazio. Há pouco estive chorando, sem saber exatamente por quê. Às vezes odeio esta vida, estas paredes, essas caminhadas de casa para a aula, da aula para casa, esses diálogos vazios, odeio até este diário, que não existiria se eu não me sentisse tão só. O que eu queria mesmo era um ombro amigo onde pudesse encostar a cabeça, uma mão passando na minha testa, uma outra mão perdida dentro da minha. O que eu queria era alguém que me recolhesse como um menino desorientado numa noite de tempestade, me colocasse numa cama quente e fofa, me desse um chá de laranjeira e me contasse uma história. Uma história longa sobre um menino só e triste que achou, uma vez, durante uma noite de tempestade, alguém que cuidasse dele.
É tarde da noite. O dia de amanhã vai ser daqueles transbordantes de rostos e palavras. E eu aqui, sentada na minha cama, olhando para o quarto ao meu redor, com a sensação de que o apartamento está me engolindo, de que a rua é gigantesca, de que o mundo é gelado lá fora. E penso quase já sem esperanças, naquele sonho que não tive nas noites passadas, nos anos passados... E me pego imaginando onde seria o esconderijo do protagonista de um lugar onde o tempo saiba passar: onde exista uma dose certa entre os dias necessários para a saudade consumir o peito, e para que os minutos não fujam antes da saciedade do beijo. Porque aqui, onde venho morando, o tempo machuca e vezenquando as noites são longas, vezenquando o domingo não passa... E é por isso que desejo tanto encontrá-lo, entende?! Para que deitasse minha cabeça em seu peito largo e fizesse meu sono chegar, e talvez até meu domingo sorrir. Mas não se assuste, pois não sou exigente e não há muito o que trazer... Uma camiseta de algodão branca no corpo, com cheirinho de limpo, e uma barba de alguns dias para roçar minhas bochechas e me lembrar do homem por trás das covinhas, já me fazem satisfeita. E haverá certas tarefas onde um bom fôlego será apreciado. No mais, basta estar aqui, basta dar amor, basta fazer sonhar. Ah, e me diga assim que chegar, se for possível, por onde diabos você andou essas noites todas?!
comovo-me em excesso por natureza e por ofício acho medonho alguém viver sem paixões (graciliano ramos)
o meu mundo não é como o dos outros quero demais, exijo demais há em mim uma sede de infinito uma angústia constante que eu nem mesma compreendo pois estou longe de ser uma pessoa sou antes uma exaltada com uma alma intensa violenta, atormentada uma alma que não se sente bem onde está que tem saudade? sei lá de quê! (florbela espanca)
a palavra que falta para completar um pensamento pode levar meia vida para aparecer (clarice lispector)
é bom às vezes se perder sem ter por que sem ter razão é um dom saber envaidecer por si saber mudar de tom (marcelo camelo)
quando eu escrevo eu consigo ordenar tudo aquilo que eu penso agora, quando eu falo ou quando eu sou, simplesmente, não consigo ordenar nada eu sou da maneira mais caótica possível (caio fernando abreu)